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TEM UMA PELADA NA JANELA

  • Foto do escritor: Tacia
    Tacia
  • 10 de ago.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 13 de ago.


— Amor! Vem ver!

— O quê?

— Tem uma pelada na janela!


Aí pronto. Não é o tipo de frase que se ignora. Eu salto do sofá — com o mesmo desespero de quem escuta “o fogão tá pegando fogo” ou “a gata fugiu”.

E lá está ela. A vizinha. Inteira. E livre.


— Para de olhar, que absurdo!


Tampo os olhos dele, fecho a cortina, cruzo os braços… Mas a imagem já ficou. Na cabeça dele e, confesso, na minha também.


Talvez ela nem soubesse que estava sendo vista. Talvez soubesse, mas não ligasse.


Morando em São Paulo, a pergunta não é se você verá uma pelada na janela um dia, mas quando você verá uma pelada na janela. Se você é do tipo que anseia por isso, não se preocupe: um dia sua vez vai chegar. Nessa cidade, tenho a impressão de que essa é uma lei não escrita. Digo isso com base na quantidade de prédios por quarteirão.


“Espera, ali ainda tem um espaço.” Pá: subiu outro prédio. Cinquenta novos apartamentos. Não tem cortina que dê conta. É como pegar fila no banco, ouvir o vizinho furando a parede às dez da noite ou entrar no chuveiro e perceber que esqueceu a toalha. Coisas que acontecem na vida de qualquer ser humano — por aqui, com um pouco mais de frequência.


E, se a vida quiser mesmo dar uma volta completa, um dia a pelada vai ser você. Não por exibicionismo, mas porque todo mundo tem aquele momento inocente de “só vou até ali pegar uma toalha” e esquece que a janela está aberta — até encontrar o zelador lá embaixo te olhando meio sem graça.


Eu cresci em Ribeirão Preto, numa época em que Ribeirão era mais interior do que o interior que é hoje. Morava numa casa com muro, onde as janelas davam para o quintal da própria casa. Ninguém via ninguém pelado. Em compensação, sabiam tanto da sua vida que, às vezes, era como se eu andasse nua pela rua. Não havia nada que você pudesse fazer que seus vizinhos não ficassem sabendo.


True story: um dia, eu estava lavando uma roupa no tanque e uma amiga, que estava comigo, perguntou por que eu não usava a máquina. Expliquei que minha mãe havia lavado outra peça na máquina e um dos botões da minha camisa tinha caído; por isso, preferia lavar à mão. Quase imediatamente, escuto a vizinha gritar:

— Tacia, se você quiser, tenho uma caixa de botões aqui em casa. De repente, algum serve na sua camisa!

— Ah, claro, obrigada! — respondi, sem graça.


Pra que novela, se tem uma intriga da vida real acontecendo bem ao lado? Pra que telejornal, se a notícia está sempre fresca e chega em primeira mão através de uma conversa no portão?


Hoje em dia, eu me pergunto: que tipo de nudismo seria preferível? O do interior ou o da capital?


No fim das contas, não era sobre a vizinha. Era sobre mim, sobre ele… e sobre como a verdadeira privacidade não existe em lugar nenhum.


— Amor! Vem ver! — eu grito.

— O quê?

— A pelada voltou!


Por favor, não me julguem. No dia em que vocês virem uma pelada na janela de vocês, saberão como é!



(Quase) tudo aqui vem da vida real — de várias pessoas, inclusive fictícias. Se é que isso existe.

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